Reino Unido: Análise da monarquia

Juliette Perrot, traduzido por Déborah Spatz
23 Février 2015



Se alguns britânicos se voltam para os políticos, muitos ainda sentem afeto pela monarquia. Uma vez que o príncipe Andrew acaba de ser citado em um caso de abuso sexual envolvendo uma garota menor de idade, voltemos à discussão sobre o poder da família real e o combate empenhado pelos seus oponentes.


Crédit Reuters
Crédit Reuters
Acusado de ter abusado sexualmente de uma garota menor de idade, o príncipe Andrew deu muito o que falar ultimamente na Grã-Bretanha. Este caso aparece na hora errada para a família real que se beneficia de uma forte popularidade no país, perceptível durante o casamento do príncipe William em 2011 ou ainda durante o Jubileu da rainha Elisabeth II em 2012. Mesmo que o Palácio de Buckingham tenha qualificado as alegações contra o príncipe de “falsas e sem fundamento”, certos britânicos repudiaram o fato alegando que se o caso tivesse envolvido um homem político, este teria sido obrigado a pedir demissão. Porém o príncipe Andrew não pode ser demitido de suas funções que são principalmente representativas, o que revolta alguns britânicos que gostariam de ver a influência e o poder da família real diminuir.  

Uma família real toda poderosa?

Enquanto a liberdade de expressão é um valor forte ao qual os britânicos dão muita importância, o poder da monarquia é hoje cada vez mais contestado. Prova de que este poder é bem concreto, a família real recentemente conseguiu impedir a difusão de um documentário a seu respeito no canal BBC. Este documentário revelava entre outros fatos, que após o falecimento da princesa Diana, o palácio recorreu a especialistas em comunicação com o objetivo de reconquistar a simpatia dos britânicos. Diante dos excelentes advogados da família real prontos a fazer de tudo para defender os interesses da monarquia, foi difícil para a BBC não recuar.

Por outro lado, uma certa opacidade cerca a família real em relação ao dinheiro que recebe, as taxas que paga ou ainda a maneira com a qual intervém nos casos públicos. Esta opacidade é ligada ao fato de que a monarquia não é afetada pela lei sobre a liberdade de informação, criada em 2000 pelo governo de Tony Blair com o objetivo de permitir aos cidadãos ter acesso aos documentos administrativos de um grande número de organismos públicos. Em 2010, o Freedom of Information Act foi alterado, dando uma proteção ainda maior para a família real. Todo documento tendo relação com a monarquia é agora inacessível durante 20 anos a partir de sua data de criação. É impossível então saber como é gasto o dinheiro público e em que medida a monarquia influencia a política do governo. Na família real, o príncipe Charles é particularmente acusado de interferir politicamente e de ultrapassar o seu papel constitucional.  

É, entre outros, o que afirmou em junho 2014 o antigo secretário de educação do Estado David Blunkett, revelando que o príncipe de Gales tinha tentado, durante o governo de Tony Blair,  convencê-lo a aumentar o número de Grammar Schools, escolas que selecionam os alunos fazendo-os passar por um exame de entrada.

A luta dos anti-monarquistas

epublic é a principal organização anti-monarquista do Reino Unido. Em sua página na internet, ela declara-se “a favor de uma alternativa democrática à monarquia”. A organização quer abolir a monarquia e substituir a rainha por um indivíduo eleito pelo povo, que representaria a nação e seria politicamente independente (ele permaneceria então bem distinto do Primeiro ministro). Ainda que a sua luta seja, antes de tudo, motivada por razões políticas e não econômicas, o Republic insiste também sobre o custo da monarquia que é avaliado em mais de 200 milhões de libras por ano. A organização denuncia além disto as ideias preconcebidas sobre a monarquia, como por exemplo, o fato de que ela permitiria federar o país e atrair turistas estrangeiros. Quanto aos que a acusam de ser anti-patriota, Republic responde que isso ela realmente é, se consideramos que ser patriota significa pôr os interesses da família real à frente dos dos cidadãos.

Por ocasião do Jubileu da rainha Elisabeth II em 2012, os anti-monarquistas protestaram à beira do rio Tâmisa gritando slogans, tais como: “cidadãos e não sujeitos”, “o poder ao povo”, ou ainda “democracia e não monarquia”. Conduzido pelo Republic, esta ação tinha por objetivo  mostrar aos monarcas que eles não são aclamados por toda a população. Porém alguns espectadores que vieram assistir ao Jubileu vaiaram os anti-monarquistas, prova de que uma parte dos britânicos permanece afeiçoada com a família real. 

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