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O “monstro estado islâmico”, fundado no ano 2006 pelo jihadista jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, controla hoje em dia uma grande parte dos territorios sírios e iraquianos. A revista Forbes posicionou o seu lider, o califa autoproclamado Abu Bakr al-Baghdadi, em 57° lugar da lista das pessoas mais poderosas do mundo em 2015. Foi depois da tomada simbólica da cidade iraquiana de Mossul, no dia 10 de junho de 2014que o EI se abriu para o resto do mundo, e já perpetrou dois grandes atentados no território francês em menos de um ano. Já faz dois anos que esta organização terrorista prospera sobre as ruinas de dois Estados em plena descomposição, aproveitando e explorando plenamente os seus recursos.
De acordo com um relatório publicado por Jean-Charles Brisard, expert francês em terrorismo internacional, 82% das entradas financeiras do Estado Islâmico originam-se diretamente dos recursos à sua disposição. Dentro desta porcentagem, 38% das receitas financeiras do Daesh são geradas pela venda de petróleo ao mercado negro. Graças à reconquista dos campos petrolíferos na Síria e no Iraque, entre os quais figuram grandes centros como Al-Omar, Raqqa e Deir ez-Zor, a organização terrorista teve fáceis condições de autofinanciamento. O Estado Islâmico financia de maneira autónoma a sua “cruzada” no Oriente Médio e na Europa, ao contrario da Al-Qaeda, cuja sobrevivência econômica dependia das doações privadas, locais ou internacionais, e pelos preços dos resgates das tomadas de reféns.
Receitas consideráveis
Os jihadistas controlam cerca de vinte poços no Iraque e na Síria, o que representa cerca de 10% da produção iraquiana e 60% da produção síria. A exploração de petróleo geraria entre 500 mil e 1 milhão de euros por dia. De acordo com uma grande reportagem publicada pelo Financial Times, o barril de petróleo produzido pelo Daesh custaria entre 15 e 40 dólares, isto de acordo com a sua qualidade. Este petróleo se exporta aos paises que são tradicionalmente clientes do Iraque, o que inclui alguns Estados da União Europeia. Em setembro de 2014, numa declaração a grande impacto mediático, Jana Hybaskova, embaixadora da ONU no Iraque, afirmou que “alguns Estados da UE compram o petróleo do Daesh”.
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Como ressalta o expert em relações internacionais e conferencista da Universidade Descartes em Paris Derek el-Zein, “o mercado do petróleo é um mercado cujo funcionamento é opaco, e este tipo de operação está permitido, ainda mais porque permite que os atores implicados na venda de petróleo cinzento tenham uma margem substancial”. É por isto que manter as exportações de petróleo do Estado Islâmico está dentro dos interesses da maioria dos atores.
O jogo duplo turco-sírio
Foi graças ao laxismo turco que esta situação foi possível. A Turquia fecha os olhos perante este tráfego lucrativo acontecendo nas suas fronteiras. Como declara Derek El-Zein, “as provisões dos paises clientes do Iraque adoptavam, antes do Estado Islâmico e mesmo depois da sua existência, as mesmas rotas principais através da Turquia. Este país teve e ainda tem uma atitude ambigua para com o Daesh, e também contribuiu grandemente à venda deste petróleo”.
Por outro lado, o caso da Síria também levanta questionamentos. Este país, devastado pelo conflito que opõe o regime de Bashar el-Assad aos rebeldes desde o ano 2011, nunca tem passado pela penuria, mesmo quando as suas principais zonas petroleiras estão hoje em dia sob domínio dos terroristas. Derek El-Zein explica que um país em guerra não deve ser considerado como um país que não funciona: com novos obstáculos, ele só se organiza de uma outra forma. O Libano, quem atravessou quase vinte anos de guerra civil, esteve nesta mesma situação e soube enfrentá-la. “Os interesses em jogo são tão importantes, que há novos circuitos de produção e de reabastecimento que se criam, o que as vezes obriga que os beligerantes cooperem em certos aspectos e lutem em outros”. Assim, sendo inimigos no campo de batalha, o regime sírio e o Estado Islâmico são parceiros no mercado do petróleo.
Uma queda na renda
A produção resultando da exploração do ouro negro é, hoje em dia, conseqüente, e permite o financiamento das atividades do Estado Islâmico. A questão é saber até quando. Os ataques dirigidos pela coligação internacional contra os poços localizados nos territórios do Daesh prejudicam considerávelmente a regularidade da sua renda petroleira. Após os ataques mortais de Paris no dia 13 de novembro, tudo parece indicar que a França e os seus aliados intensificarão amplamente a sua ação militar. Assim, o califado enfrentará um limite ainda maior, já que sem o seu maná petroleiro, será difícil regular gastos elevados e evitar um enfraquecimento da organização.
