Moscou : Uma cidade parada no tempo

Quando chegamos em Moscou, a primeira impressão que temos é a de um gigantismo esmagador. Prédios imensos e impressionantes mostram a glória da Rússia de antigamente. No meio destes gigantes de concreto, marca do comunismo sem alma, encontram-se maravilhas arquitetônicas. O Kremlin e Praça Vermelha são por exemplo os últimos sobreviventes da destruição comunista. O modernismo não parece ter seu espaço em Moscou. No lugar disto, grandes blocos com janelas perfeitamente alinhadas e idênticas permitem imaginar apartamentos totalmente iguais. Quanto mais a visita continua, mais a impressão de poder testemunhar do exagero de Stalin que permanece até hoje.

O sentimento de insegurança é permanente com, por exemplo, a onipresença da polícia nas ruas da capital. Moscou é uma cidade que ainda esconde a pobreza aos olhos de todos. Quanto mais nos perdemos dentro da cidade, mais descobrimos prédios vetustos não habitados ou não renovados, com janelas quebradas. Muitas Moskvitch, que são os carros regulamentares comunistas, ainda circulam pela cidade, o que reforça a diferença entre a extrema riqueza e a extrema pobreza que compõe o ambiente da cidade. A arquitetura russa não é a única que revela a dificuldade da Rússia de viver dentro de seu tempo.

Em 2012, Vladimir Putin foi eleito por sufrágio universal com 63% dos votos no primeiro turno. O presidente detém então o papel de um personagem todo poderoso. Ele é o comandante chefe dos exércitos, o presidente é encarregado de liderar o seu governo. Ele nomeia todos os responsáveis judiciários além do procurador geral. Ele também tem o poder de votar leis sem o acordo das câmaras e dispõe de um direito de veto em relação às leis do Parlamento. O Parlamento só pode entrar com um processo de destituição em caso de desacordo com o presidente mas este processo longo nunca chegou ao fim até hoje. O presidente russo tem então em suas mãos os poderes executivos e legislativos.

Mesmo brilhando no cenário internacional, como por exemplo com as ações executadas na Ucrânia para recuperar a Crimea, Putin negligencia, entretanto, os direitos de seus cidadãos. A liberdade de expressão é por exemplo reduzida ao mínimo: a internet não escapa dos controles. Facebook e Youtube são por sua vez rigorosamente regulamentados (1). Putin, cria do KGB, reivindica entretanto um regime democrático de acordo com o reconhecido pela Corte Europeia dos direitos humanos. Mas este país gigantesco é dividido e os direitos de propriedade intelectual e material são violados.

Os que não têm dinheiro vão para a prisão. A legislação russa não é levada a sério e apesar dos esforços de Putin para democratizar o país, cada um vive de acordo com as suas regras. As leis são muito numerosas e não rigorosamente aplicadas: é o exemplo da lei sobre a proteção da propriedade intelectual que permite autentificar um produto como “verdadeiro” mas é importante ressaltar que hoje os controles são difíceis por causa do tamanho do país. Os tribunais são muito influenciados pelo governo ele próprio de um lado e do outro pela Mafia. Hoje de 30 a 50% dos lucros da mafia são reservados aos responsáveis do ministério dos impostos, da milícia, da justiça e até mesmo do governo segundo estimativas. A corrupção é então uma entidade à parte no sistema judiciário, económico e politico russo, Putin e a Mafia dividem este poder.

Moscou continua a ser uma cidade que conheceu a sua época de glória antes da guerra fria. O poder da cidade está presente em cada construção e cada instituição. Porém os sistemas políticos, judiciários e geopolíticos mostram uma Rússia com dificuldades para seguir em frente e que continua presa às suas conquistas passadas. Majestosa, esta cidade, muito pouco conhecida dos turistas, tem muitas riquezas a oferecer.

(1) Facebook e Youtube não foram apagados do mapa mas são rigorosamente regulamentados.