Mexico: “eles levaram-nos vivos, vivos os queremos”

Margot Bauche, traduzido por Carolina Duarte de Jesus
29 Novembre 2014



No último 26 de setembro, 43 estudantes mexicanos desapareceram no Estado de Guerrero, no sudoeste do país, depois de um ataque feito conjuntamente pela policia da cidade e pelos narco-traficantes. Apesar de três membros do cartel dos Guerreros Unidos terem confessado matar três estudantes, as famílias das vítimas continuam a exigir - por falta de provas - que os seus filhos lhes sejam devolvidos vivos.


Crédit Marco Ugarte / AP
Crédit Marco Ugarte / AP
Dia 26 de setembro, 57 estudantes da Escola normal de Ayotzinapa, com idades de 18 a 21 anos, foram a Iguala para lançar uma angariação de fundos e organizar uma manifestação importante. Enquanto que estavam a ponto de ir embora de Iguala, foram atacados pela policia local e por membros do cartel dos Guerreros Unidos numa fuzilada que provocou seis mortos e quase vinte e cinco feridos. Os sobreviventes foram levados em carros da policia e estão desaparecidos desde então. Segundo várias testemunhas, depois da fuzilada, a policia local teria dado os estudantes a um dos quartéis de droga locais, os Guerreros Unidos. 

O drama de Iguala e o “casal imperial”

Dez dias depois dos acontecimentos, as autoridades locais descobriram 28 corpos calcinados numa fossa clandestina, perto de Iguala. Dia 11 de Novembro, a polícia anunciou porém que nenhuma traça de ADN dos 43 estudantes foi encontrada naquelas fossas.

O caso foi relançado dia 7 de Novembro, data na qual o ministro mexicano da Justiça, Jesús Mu-rillo Karam, tornou públicos as confissões de três membros dos Guerreros Unidos, presos depois dos acontecimentos. Segundo as declarações deles, os corpos dos 43 desaparecidos teriam sido queimados numa gigantesca pira funerária durante quase 14 horas e os restos teriam sido atirados no rio San Juan, próximo ao lugar do crime..
Maria de los Ángeles Pineda y José Luis Abarca - Crédit Alejandrino Gonzalez
Maria de los Ángeles Pineda y José Luis Abarca - Crédit Alejandrino Gonzalez

Desde finais de setembro, mais de 70 indivíduos dos Guerreros Unidos e da administração local foram chamados pela policia. Dia 4 de Novembro, as autoridades federais mexicanas levaram presos o “casal imperial”, Jose Luis Abarca e a sua mulher, Maria de los Ángeles Pineda, que tinham fugido para a capital dois dias depois dos acontecimentos. 

José Luis Abarca, presidente da Câmara de Iguala, é um possível suspeito neste drama, pelo fato de ter presunta e pessoalmente dado a ordem do ataque da policia local contra os estudantes de Ayotzinapa. Hoje, ele é acusado de ser o autor intelectual destes crimes, em associação com os narcotraficantes locais. Maria de los Ángeles Pineda, a mulher dele, seria a própria irmã de três traficantes do cartel dos Guerreros Unidos.

A insurreição civil mexicana: “o caso a mais”, segundo Abel Barrera

Segundo Abel Barrera, fundador do Centro dos Direitos Humanos da Montanha de Tlachinollan, o drama de Iguala é “o caso a mais para a população, indignada pela incapacidade do governo a encontrar os desaparecidos”.

Desde o desaparecimento dos 43 estudantes, as manifestações multiplicam-se no centro do Esta-do de Guerrero. As famílias de vítimas e a população mexicana continuam a exigir que os desa-parecidos sejam devolvidos vivos, recusando assim, por falta de provas, aceitar a versão oficial do governo mexicano. 

Dia 10 de novembro, os manifestantes bloquearam, durante várias horas, o acesso ao aeroporto international de Acapulco e incendiaram no dia segundo a sede do partido governamental, o PRI, na cidade de Chilpancingo. Na quarta-feira, dia 12 de novembro, quase 500 estudantes e profes-sores também incendiaram parcialmente o Parlamento do Estado de Guerrero.
Enrique Peña Nieto, le 29 octobre 2014 - Crédit Yuri Cortez / AFP
Enrique Peña Nieto, le 29 octobre 2014 - Crédit Yuri Cortez / AFP

As famílias dos desaparecidos estão a dar a volta ao Estado de Guerrero, desde quinta-feira, para acentuar a pressão sobre as autoridades federais para que elas continuem a pesquisa e para que encontrem os 43 estudantes desaparecidos. Elas prevêem desde já de ir até a Cidade do México, na data da festa nacional da revolução mexicana, dia 20 de novembro, para continuar a exigir que a justiça lhes seja feita. 

Desde metade do mes de outubro, parece que as manifestações tenham tomado um peso interna-cional como o demonstram vários encontros que foram organizados nos quatro cantos do mundo, nos quais está Paris, em apoio ás famílias das vítimas. Segundo Mauricio Mejia, estudante mexi-cano no 4º ano de Sciences Po (Instituto francês de Ciências Políticas) e presente nas manifesta-ções de Paris, “as manifestações fora de Mexico são muito importante para que a comunidade internacional saiba o que se passa realmente. É preciso quebrar com o discurso oficial dado internacionalmente, segundo o qual o Mexico está em plena mudança e plena modernização graças ás reformas econômicas e a violência é um problema colateral e quase sob controle”. 

Graves conseqüências para as classes políticas mexicanas

Depois da demissão do Governador do Estado de Guerrero Ángel Aguirre dia 23 de Outubro e a do Procurador Geral do Estado de Iñaki Blanco, dia 12 de novembro, uma grande parte da popu-lação mexicana pede hoje a demissão do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto.

Antes elogiado pela prensa internacional, e descrito pelas manchetes do Times como o “salvador do México”, em fevereiro de 2014, Enrique Peña Nieto atravessa, hoje em dia, a maior crise do seu mandado presidencial, desde que subiu ao poder, em 2012. 

O drama de Iguala mostra uma das mais profundas pragas actuais do México: a corrupção das autoridades políticas e policiais com os quartéis de droga locais.

Segundo Mauricio Mejia, “o governo mexicano é duplamente responsável. O governo local de Iguala ordenou o desaparecimento de estudantes e que o Cartel dos Guerreros Unidos “se ocupe do resto”. Mas o governo federal também é responsável pela sua ação tardia e ineficaz e pela falta de informação dada ás famílias. Percebemos que a coalizão entre o governo e o narcotráfi-co é real e muito perigosa”. Ele acrescenta que “a possibilidade de demissão de Peña Nieto não pode ser justificada “só” pelo desaparecimento dos estudantes, mas sobretudo pelos 20.000 desaparecidos durante o seu mandato e a falta de um Estado de direito em Mexico”.

Sem nenhuma dúvida, o caso de Iguala vai profundamente marcar a presidência de Enrique Peña Nieto. A questão presente é de saber se ela permitirá de lançar um renovamento da classe política mexicana, uma luta eficaz contra a corrupção e o controle dos cartéis de droga no território mexicano.

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