Marie Pothin
Se bem que as notícias sobre a biodiversidade e os recursos do nosso planeta não são novidade, elas alcançam hoje um ponto crítico. É o que parece confirmar o relatório Planeta Vivo, publicado duas vezes por ano pela WWF em parceria com a Zoological Society of London e as ONG Global Footprint Network e Water Footprint Network. Apresentado à UNESCO no dia 30 de setembro, este relatório é baseado em três principais indicadores . Porém, é o Índice Planeta Vivo (IPV) o que mede a evolução da biodiversidade a partir de mais de 10000 grupos de animais de cerca de 3038 espécies de vertebrados. Isto é o que permite tirar as conclusões mais preocupantes.
O desaparecimento de mais da metade da população de animais selvagens
Houve, em efeito, uma baixa de mais de 50% entre 1970 e 2010, constatada nas populações mais selvagens. Em só 40 anos, a diminuição superou amplamente as previsões feitas alguns anos atrás. Estas cifras, porém, não são mais do que uma média. Olhando mais de perto, algumas das espécies sofreram baixas críticas, como as populações animais de água doce, a qual diminui de cerca de 76%. As espécies marinas e terrestres “só” tiveram uma queda de 39%.
O relatório Planeta Vivo também revela alguns desaperecimentos geográficos consideráveis. Assim, as perdas mais importantes na biodiversidade foram observadas nas zonas dos trópicos, chegando aos 56%. A América Latina, mais particularmente, perdeu não menos do que 83% das suas espécies selvagens.
As causas desta hecatombe são numerosas e conhecidas: degradação ou desaparecimento dos habitats naturais, a caça, a pesca, a poluição e o aquecimento global.
É neste contexto que o segundo indicador usado pelos especialistas faz sua aparição. Trata-se da pegada ecológica, a qual mede a pressão de cada ser humano sobre o meio ambiente pelo cálculo da superfície terrestre e marítima necessária à cada ser humano para a sua sobrevivência. Nisto também se inclui a produção de viveres mas também de bens de consumo de alojamentos e comércios, e os resíduos produzidos por nós. De tal maneira, no ano 2010, a humanidade usou o equivalente à uma Terra e meia. A consequência: enquanto o lixo e o carbono estão aumentando, os recursos estão acabando.
Ainda neste caso, o relatório revela alguns desaparecimentos geográficos importantes. Sendo somente cinco, a China, os Estados Unidos, a índia, o Brasil e a Rússia representam mais da metade da pegada ecológica mundial. Porém, se consideramos a população de cada um desses países, chegamos à uma classificação totalmente diferente. Neste caso, o Kuwait, o Catar, os Emirates Arabes Unidos, a Dinamarca e a Bélgica são os vencedores. A França pode presumir que ocupa a 23a posição... com uma pegada ecológica amplamente superior à média mundial (na verdade, quase o dobro).
Os países mais ricos são os menos afetados
Finalmente, o terceiro índice do relatório Planeta viva, a pegada de água, permite de avaliar os volumes de água doce e de água de chuva necessários á população mundial. Ele mostra que, a nível planetário, a produção agrícola representa 92% da pegada de água global, muito maior da produção industrial (4,4%) e os usos domésticos (3,6%). Os maiores consumidores de água são então os Estados-Unidos e a China, para os quais a produção e a exportação de bens agrícolas e industriais consomem mais água.
Enquanto que os países mais ricos são os que exercem mais pressão no ambiente, os países em desenvolvimento são os que conhecem mais perdas no ecosistema O relatório da WWF permite-nos então de nos lembrar em maiúsculas que “Hoje, quase um milhão de indivíduos sofrem de fome, 768 milhões vivem sem água salubre e limpa, e 1,4 milhares não têm acesso a uma fonte de eletricidade fiável”.
Uma situação irreversível?
A situação já parece critica, e está previsto que as coisas vão ficar mais graves. Se a população quase que triplicou desde 1950 para chegar aos 7 milhares em 2011, estimamos quase 10 milhares em 2050. Mas para Philippe Germa, director da WWF França, podemos evitar o pior: “a humanidade pode conseguir separar o desenvolvimento da sua pegada ecológica. Para isso é preciso preservar o capital natural, sobretudo ao parar de explorar demasiado os stocks de peixe, produzir melhor, com menos desperdícios e mais energias renováveis, e re-orientar os fluxos financeiros ao considerar os custos ambientais e sociais”.