Grã-Bretanha: qual o futuro do NHS?

Juliette Perrot, traduzido por Edna Vieira
24 Février 2015



O National Health Service (NHS) passou por momentos difíceis durante o período de festas de fim de ano. A volta aos problemas do sistema público de saúde britânico.


Crédit DR
Crédit DR
No fim de dezembro e início de janeiro, muitos incidentes ocorreram nos serviços de emergência britânicos. Longas esperas, operações canceladas e falta de leitos têm marcado o cotidiano dos profissionais da saúde. Cerca de 21.000 pessoas esperaram mais de 12 horas em macas antes de serem atendidas. Uma verdadeira atmosfera de caos dominou as emergências, alguns pacientes vomitaram nas salas de espera e outros não se arriscaram a entrar por medo de contrair uma infecção. Diante dessa situação, enfermeiros e médicos manifestaram a sua desolação. Esses últimos denunciaram a pressão sobre os seus ombros, os pacientes e o tratamento de casos como sendo muito diferentes uns dos outros. Assim, fica difícil administrar tudo ao mesmo tempo. Durante o período de festas, ligações foram feitas em muitos serviços de emergência, para os cuidados de médicos e enfermeiros em repouso. Alguns hospitais usam até mesmo as redes sociais como o Twitter para mobilizar o máximo de profissionais da saúde.

Como explicar esse problema?

Na Grã-Bretanha, hospitais e prontos-socorros não ficam sobrecarregados apenas durante o período de festas de fim de ano. Um verdadeiro problema de saúde pública surge no país, em grande parte devido ao envelhecimento da população. As pessoas mais velhas são mais propensas a ficarem doente, precisando de cuidados ou acompanhamento médico intensivo. Essas pessoas também constituem a maioria dos "bedblockers", o nome dado aos pacientes que permanecem no hospital e, portanto, "bloqueiam os leitos", quando poderiam ir para casa. Elas geralmente precisam de acompanhamento regular e cuidados várias vezes ao dia, por isso é mais vantajoso mantê-los lá. As instituições especializadas estão, por sua vez, sobrecarregadas e muito poucos pacientes são enviados para lá. Cerca de 10% dos leitos estariam assim hoje "bloqueados" em hospitais britânicos, um fenômeno que domina por causa de cortes orçamentários que ocorreram no país e que diminuíram a possibilidade de os doentes serem tratados em casa.
 
Crédit The Guardian
Crédit The Guardian

Bem além do problema de envelhecimento da população

Visitar o médico regularmente é algo que os pacientes fazem cada vez menos, e isso devido ao tempo de espera necessário para obter uma consulta. Dessa forma, muitas pessoas vão diretamente para a emergência, o que leva vários hospitais a mobilizarem os médicos desde as portas de entrada para que eles realizem uma seleção inicial dos pacientes. Alguns especialistas também explicam que nós estamos cada vez mais propensos a ir a uma consulta desde a menor das dores, mesmo que nem sempre justificada. Todos concordam, enfim, com o fato de que uma das principais causas do problema do sistema público de saúde está relacionada com a forma como é gerido.

De um milhão de pessoas que compõem a cada mês o número de emergência do NHS (111), 17% causam o envio de uma ambulância ou dizem que precisam ir ao pronto-socorro. Esse importante número - desproporcional ao que de fato deveria ser - é explicado pelo fato de que os funcionários que atendem ao telefone seguem um guia que indica exatamente o que fazer com base nos sintomas relatados, às vezes a pesar do bom senso. Os funcionários do serviço de informação do NHS de fato não têm nada a ver com o mundo da medicina e não seguem qualquer formação nas semanas anteriores à posse do cargo. Nos tempos do antigo serviço de informação, o NHS Direct, os enfermeiros eram responsáveis por atender ao telefone. O NHS 111, no entanto, parece ter sido posto em prática por questões econômicas, uma vez que os funcionários sem formação recebem menos do que receberiam as enfermeiras. Do lado dos pacientes, há queixas de chamadas não atendidas, do tempo de espera ou ainda da dificuldade de obter informações precisas.

Os funcionários, por sua vez, denunciam um trabalho frustrante e longe de ser eficaz. Na ausência de conhecimentos reais sobre medicina, uma ambulância pode, assim, ser enviada a um paciente que diz sentir dores no peito, embora ele possa estar, na verdade, sofrendo de dor muscular ou de azia. Um diagnóstico que um enfermeiro teria pouca dificuldade em estabelecer ao fazer as perguntas adequadas pelo telefone.

Com inúmeros problemas e deficiências, o sistema público de saúde britânico está agora à beira da implosão. Pacientes, médicos, enfermeiros e funcionários do NHS concordam que as mudanças são necessárias. Resta saber se isso influenciará os diferentes partidos britânicos, enquanto as eleições gerais são realizadas este ano no país...

Notez