Conhecem o festival 2ANNAS ?

Escrito por Jean Baptiste Roncari Traduzido por Manon Millencourt
25 Novembre 2014



Concluiu-se no domingo 26 de Outubro a décima nona edição do Riga International Film Festival 2ANNAS. É um festival internacional de cinema independente que acontece todos os anos em Riga, capital da Letónia, e que reúne no espaço de alguns dias cineastas e cinéfilos do mundo inteiro. Este ano, o tema escolhido foi “Os transgressores – escuteiros e pioneiros do cinema”. Entre o documentário e a ficção, passando pelo cinema experimental, os filmes apresentados tinham formas diversas e variadas, tudo isso para servir problemáticas tratando de temas tabus e pouco explorados. Flashback sobre este intenso e único festival para o qual a França apresentou seis curtas-metragens.


Crédit Julija Stancevičiūtė
Crédit Julija Stancevičiūtė
Apesar de não ter a popularidade do festival de Cannes em França ou da Berlinale na Alemanha, a reputação do festival 2ANNAS não pára de crescer ao longo dos anos. Ao início, era um pequeno e simples evento criado para promover e apoiar o interesse da arte cinematográfica na Letónia. Mas abriu as suas fronteiras em 2005 e tornou-se num festival de carácter internacional. Desde então, o programa cresce de ano para ano e atrai cada vez mais pessoas. A edição de 2014 foi com essa qualidade uma das mais importantes com uns 120 filmes projectados em 9 dias em toda a capital.

“Um festival único, rico, intenso e interessante”

Além dos múltiplos temas abordados nas diferentes categorias como o erotismo, o cinema letónio independente, os transgressores alemães, os filmes podem concorrer para três competições: a da melhor curta-metragem internacional, a da melhor curta-metragem dos países bálticos e a da melhor longa metragem. Este programa ecléctico que não obceca o aspecto competitivo agradou particularmente a Yoel Kaminski, cineasta israelense e membro do júri da competição da melhor curta-metragem internacional, que acha este festival realmente “único, rico, intenso e interessante”.

Apesar das seis curtas-metragens apresentadas pela França nesta competição, nenhuma delas ganhou um prêmio. No entanto, o júri atribuiu uma menção especial ao filme Gli Immacolati do cineasta francês Ronny Trocker. Quanto à curta-metragem Supervenus realizada por Frédéric Doazan que tinha conhecido um certo sucesso na Internet levando o conceito da cirurgia estética ao absurdo, Yoel Kaminski acabou por reconhecer “a eficácia” da curta-metragem apesar da “ausência de surpresa dentro da narração”.

Foi finalmente a Alemanha que ganhou o golden ANNA 2014 da melhor curta-metragem internacional com Das Satanische Dickicht – Eins (O bosquezinho satânico – um em português) realizado por Willy Hans. O filme, pela sua atmosfera sufocada que retrata com eficácia uma família desunida, foi unanime no júri que, no entanto, fez questão de sublinhar a qualidade de todos os filmes projectados e felicitar a equipa do festival.

Viver a transgressão

É preciso dizer que este ano, o tema da transgressão autorizou a projecção de alguns filmes que se revelaram ser uma verdadeira experiência para o público. Os filmes da categoria erótica foram projectados na pequena sala de cinema de um bar em Riga, o Kaņepes Kultūras centrs, no qual o ambiente é bastante descontraído. No entanto, os espectadores estavam partilhados entre risos e silêncios embaraçados. Efetivamente, a primeira curta-metragem Please relax now (Por favor, descontrai-te agora em português) de Vika Kirchenbauer apresentava uma pessoa que tem um ar andrógino que incitava a se masturbar segundo as suas instruções enquanto que o público estava mergulhado na escuridão. Outra, I am monster (Sou um monstro em português) de Shamon Iark e Lori Bowen, relatava, não sem um certo humor negro, as peripécias sexuais de uma necrófila que trabalhava numa morgue. 
 

Numa forma de transgressão diferente, uma projecção especial de curtas-metragens foi organizada pelo cineasta grego Vassily Bourikas num pequeno cinema independente em Riga. “A experimentação e a investigação cinematográfica nunca foram encorajadas no nosso país, mas lentamente os cineastas enfrentam esta situação.” O objectivo consistia em mostrar outra coisa que a crise na Grécia através do olhar atípico dos futuros cineastas. A originalidade, ou deveria-se dizer a transgressão, também consistia em projectar estes filmes via um antigo projector cujos ruidoso mecanismo e qualidade de imagem imperfeita participaram no charme da sessão. Assim as experiências cinematográficas se sucederam durante nove dias e a edição 2014 do festival 2ANNAS foi rica em surpresas e descobertas.

O cinema letónio tem o lugar de honra

mage tirée du film Akmeņi manās kabatās
mage tirée du film Akmeņi manās kabatās
Também foi a ocasião para o cinema letónio para apresentar algumas das suas realizações. Ganhou o prémio da melhor curta-metragem experimental, o da melhor ficção curta da competição báltica e o da melhor longa-metragem da competição internacional das longas-metragens. Assim, soube destacar os seus recursos. O laureado deste último prémio, Akmeņi manās kabatās (Pedras nos meus bolsos em português) de Signe Baumane agradou particularmente pelo seu ambiente surrealista que consegue encontrar o justo equilíbrio narrativo entre a encenação dos eventos da história letónia e o combate de cinco mulheres contra a depressão e a loucura. Baseado em factos reais, este filme de animação alterna com precisão entre o cómico e o dramático. Estas três distinções, além de ser simbólicas, são por outro lado esperançosos na medida em que os filmes americanos representam atualmente cerca de 90% das entradas na Letónia.
 

Mas não se enganem: qualquer que seja o país de origem, o cinema independente não é um cinema destinado ao grande público, pois os seus códigos não correspondem ás expectativas da maioria. Trata-se de outro mundo no qual a criatividade e a originalidade têm mais importância que o orçamento e a demagogia. No entanto, é neste tipo de festival que o grande público pode descobrir novos talentos cinematográficos. E o festival 2ANNAS cumpriu as suas promessas organizando projecções gratuitas nos bares, e baratas nos cinemas. Os organizadores são jovens, controlam as redes sociais e participam neste festival com dedicação numa atmosfera relativamente amistosa. Continuando neste caminho, o evento compromete num futuro seguro. Aliás, o festival constitui agora e no futuro um encontro anual para muitos cineastas e cinéfilos.

Notamos que em fim de ano, Riga organiza pela primeira vez o Riga International Film Festival (RIFF) para atribuir os European Film Awards (Prémio do Cinema Europeu). A cidade acolhe um evento em honra do seu estatuto de capital europeia da cultura 2014. Oferece uma oportunidade para a equipa do festival de promover a cultura cinematográfica letónia e apresentar alguns filmes - já projectados durante o festival - a um maior público.

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