Brasil : Morte na Arena Corinthians

Vinícius Mendes, correspondente para São Paulo, Brasil
21 Décembre 2013



Guindaste de 114 metros cai sobre parte do estádio que abrirá a Copa do Mundo do ano que vem; cronograma para entrega da arena é afetado.


Credite Fotografia --- AFP ¦ Miguel Schincariol
Credite Fotografia --- AFP ¦ Miguel Schincariol
O grande relógio pendurado em uma das arquibancadas da Arena Corinthians marcava o o período do almoço. Para os 1.350 operários da obra no bairro de Itaquera - zona leste de São Paulo – era o horário preferido. Quem não estava comendo na manhã da quarta-feira, 27, estava descansando em alguma sombra disponível. Era exatamente 12h51 e o sol era forte. As máquinas ainda trabalhavam quando uma delas falhou. Em seguida, um guindaste de 114 metros não aguentou segurar a última peça que seria montada no teto do estádio e desabou sobre o prédio leste do estádio, destruindo parcialmente a fachada da construção e matando dois trabalhadores.

Foi o primeiro acidente com vítimas fatais nas obras da Arena sede da inauguração do Mundial de 2014. Porém, não foi um fato novo nos canteiros dos novos estádios brasileiros. Em junho de 2012, um operário de 21 anos caiu de um andaime de 30 metros no Estádio Nacional de Brasília e morreu na hora. Em março deste ano, outro acidente na Arena Amazônia, em Manaus, matou um funcionário que andava por uma das colunas do estádio. Desde a escolha do Brasil como sede do evento, em 2007, até esta semana, quatro pessoas morreram nas obras dos estádios brasileiros. O número é maior ao da África do Sul que contabilizou duas mortes na preparação para o evento mudial de 2010.

Apesar das constantes vistorias realizadas nos últimos dias, ainda não há uma definição sobre as causas do acidente na Arena Corinthians. Na quinta-feira, o coordenador da Defesa Civil de São Paulo, Jair Paca Lima, interditou a área atingida pelo guindaste e iniciou a perícia técnica no local, que deve durar um mês. Numa primeira análise, ele descartou a possibilidade de afundamento do solo onde a grua estava instalada. “É difícil dizer o que realmente aconteceu apenas olhando a olhos nus. Os laudos vão dizer, mas pela experiência que eu tenho, não acredito que houve problemas no chão. Eu não encontrei rachaduras e nada que dê crédito a essa hipótese”, disse o técnico ao Journal International, na quinta-feira. Em entrevista coletiva no dia do acidente, o ex-presidente do Corinthians e orientador da construção, Andrés Sanchez, disse que não havia irregularidade nem problemas de segurança na obra, mas não deu um prazo para a entrega do estádio. A reportagem do Journal International ouviu vários funcionários da construtora brasileira Odebrecht, empresa responsável pela obra, mas nenhum deles reclamou das condições de trabalho.

A Arena Corinthians começou a ser construída em maio de 2011. O projeto foi desenhado pelo arquiteto Aníbal Coutinho, do escritório CDCA, do Rio de Janeiro. O estádio não era a primeira opção para abrir a Copa do Mundo do ano que vem. Em um primeiro momento, o estádio do Morumbi, patrimônio do São Paulo Futebol Clube, seria o local do Mundial na capital paulista. A obra do “Itaquerão”, como foi apelidado devido à sua localização no bairro de Itaquera, zona leste paulistana, estava 94% concluída e deveria ser entregue no dia 31 de janeiro. A FIFA esperava receber as chaves do estádio no dia 15 de janeiro. A última visita da entidade no local foi feita em agosto, quando ainda havia a preocupação quanto ao prazo para o estádio ficar pronto. Na ocasião, o francês Jérôme Valcke, diretor da organização elogiou a obra. “Em fevereiro, o Corinthians já fará jogos aqui. E, se a FIFA quiser fazer testes, também vai poder. A gente só precisa deixar tudo certo para que os jornalistas não fiquem reclamando depois”, afirmou o dirigente. O prazo, porém, será afetado, apesar de não gerar tanta preocupação nos organizadores do Mundial. “Parece-me que não haverá problemas para a Copa. Não dá pra dizer quanto tempo, mas não vai demorar muito para consertar tudo”, revelou o presidente do Instituto de Engenharia do Brasil, Camil Eid, ao Journal International. A expectativa do Corinthians, do Comitê Organizador da Copa e da FIFA é que as obras terminem e que a arena seja inaugurada 60 dias depois do previsto inicialmente.

O guindaste de 114 metros foi fabricado pela empresa alemã Liebherr, tinha capacidade para 1,5 mil toneladas e estava levantando uma peça de 420 toneladas quando desabou. O equipamento era alugado pela empresa Locar para a construtora Odebrecht, que já havia divulgado na imprensa brasileira que se tratava do “maior guindaste do mundo”. Na obra do estádio, existem outros dois aparelhos parecidos, porém, com capacidade menor. A Liebherr e a Locar não foram localizadas por nossa reportagem. Na sexta-feira 29 de novembro, engenheiros alemães foram ao local do acidente para tirar um dispositivo que coletou as informações do guindaste a fim de ajudar nos laudos.

As duas vítimas estavam dormindo no momento do acidente. Fabio Luiz Pereira, de 42 anos, era da cidade de Limeira (SP e trabalhava como motorista de caminhão. Ele estava dormindo dentro do veículo que foi atingido pela ponta do guindaste. “Ele foi almoçar e voltou. Entrou no caminhão e deitou para descansar. Eu só ouvi o barulho. Quando vi, ele estava com o peito estourado e o braço para fora do caminhão. Entrei em choque”, disse uma das testemunhas. Ronaldo Oliveira Santos, tinha 44 anos e era de Fortaleza, (Ceará). Ele tinha uma filha e era divorciado. Na hora do desabamento, Ronaldo estava dormindo em um túnel que dava acesso a uma das arquibancadas.

A Copa do Mundo do Brasil começará no dia 12 de junho de 2014 em São Paulo. A final da competição será no Rio de Janeiro, no dia 13 de julho.

Revisão : Luís Henrique Deutsch

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