Angola : a nova potência econômica africana

Mathilde Mossard, traduzido por Maria A. Paixão Herrera
26 Novembre 2013



Durante muitos anos, qualquer notícia da Angola se relacionava à guerra civil, guerrilhas ou intervenções extrangeiras. O país mal acabava de nascer em 1975 e já começavam cerca de trinta anos de conflitos internos mortais. Porém, hoje, se o Journal International fala sobre este país, não é por causa da guerra e sim dos negócios.


Crédito foto — Reuters
Crédito foto — Reuters
Para começar, há uma cifra que não escapa ao olhar dos investidores estrangeiros. Estamos falando de 17, a taxa de crecimento do PIB angolano entre os anos 2004 e 2008. É por isto que uma corrente de otimismo toma conta do ambiente económico do país, dando-lhe verdadeiras perspetivas de desenvolvimento. O novo milênio, além de marcar o começo da era de modernização da economia angolana, vira sobretudo uma página sombría na sua história nacional.

O fim da guerra: uma economia que vê a luz do dia

No ano de 1975, quando o Portugal concede a independência a Angola, o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), inspirado pela ideología marxista, começa a governar o país. Porém, há outros movimentos políticos que buscam o poder, e isto provoca o começo de uma guerra civil que será tristemente alimentada pelas estratégias internacionais da Guerra Fria. De fato, o MPLA, apoiado por Cuba e a URSS, e a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), pró-ocidental e apoiada pelo regime de apartheid sul-africano e pelos Estados Unidos, se enfrentarão pelo poder. Só no ano de 2002 a UNITA vai depor as armas, depois da morte do seu líder, para assim acabar com a guerra civil que deixou cerca de 500.000 vítimas. O MPLA passa então a ser a primera força política do país e iria democratizar as instituções angolanas. 

Contudo, estes conflitos ocultaram o potencial econômico do país. O território angolano é muito rico em recursos naturais, tais como o petróleo, gás natural, cobre, diamantes, ferro, zinco, entre outros. A indústria do petróleo já havia decolado nos anos 70, mas foi ao terminar a guerra que ela conheceu a verdadeira prosperidade. No ano de 2005, o país chegou até mesmo a fazer parte da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). A partir desse momento, o ouro negro passa a representar 85% do PIB angolano, seguido pela extração de diamantes cujas exportações atingem 5% do PIB.

Desde o ano 2002, a produção de petróleo mais do que dobrou. No entanto, sem perder o seu lugar, permitiu uma diversificação da economia. Por outro lado, a agricultura e a construção passaram a ser setores de crecimento com a chegada da paz ao país, o que permitiu o realojamento da população. Finalmente, os poderes públicos, depois de serem legitimados, puderam assumir os seus respectivos papéis administrativos e assim criar condições adequadas de desenvolvimento econômico (infraestruturas de água e energia, controle jurídico das empresas, tributação).

Uma potência regional muito atraente

Um dos elementos essenciais para o desenvolvimento econômico angolano é a confiança em um país pacificado. Decerto, a inflação de dois ou três dígitos parece ser história do passado e a moeda, viva imagem do país, se estabiliza. Todas as condições de um boom económico pós-guerra estão preenchidas. A reconstrução nacional, acontecida nos anos 2000, foi graças aos lucros da indústria do petróleo e aos empréstimos internacionais para essa finalidade.
 
Bem que tenha sido um pouco afetada pela crise de 2008, a taxa de crecimento chega a um nível incrível (17%). Ao apresentar o melhor crecimento econômico de toda a África, incluindo a região do Magrebe, entre os anos 1989 e 2008, o Angola é uma atração para os investidores do mundo inteiro. Todos os países se apressam para poder investir nesta nova terra de oportunidades, entre os quais estão o Portugal e o Brasil, com quem Angola tem a língua portuguesa e um passado colonial em comum, mas também a China e a Espanha. Os enormes e ultra-novos shopping centers da capital, Luanda, que têm o capital e a tecnología dos países investidores, são símbolo do dinamismo dos investimentos estrangeiros.  

Além disto, aumentam os encontros diplomáticos. No próximo dia 25 de abril, os ministros angolanos e espanhóis têm uma reunião marcada em Madri, no âmbito de um fórum sobre as oportunidades econômicas em Angola. Semana passada, o ministro angolano de Geologia e Minas esteve no Brasil em visita oficial de cinco dias, durante a qual foram assinados acordos de cooperação no setor geológico e mineiro. Durante o mês de março, Luanda acolheu uma delegação chinesa para uma exposição sobre as tecnologias ambientais, setor no qual ambos países desejam cooperar.

Angola confirma, com ajuda dos números, o seu domínio econômico regional. No ano de 2008, o país era a sétima potência econômica do continente africano e, de acordo com o economista angolano Manuel Alves da Rocha, poderia chegar à quinta posição em 2014. A sua ascensão é fulgurante e promete uma influência política muito importante nas organizações regionais. Daí em diante, o Angola poderá fazer valer os seus interesses junto à Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (NEPAD, pelas suas siglas em inglês), organismo da União Africana que analisa as perspectivas e projetos de desenvolvimento econômico da região, mas também da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC, pelas suas siglas em inglês), organismo de integração regional, do qual o Angola é membro.
 
Dez anos após o fin da guerra civil, este país é, sem dúvida alguma, uma nova potência económica africana, assim como um exemplo vitorioso de um modelo de desenvolvimento económico basado na estabilidade política e nos investimentos gerados pelos lucros das indústrias do petróleo e da mineiração. O Angola têm de continuar à afirmar o entusiasmo que chegou à suscitar. 

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