A revolução vegan: Sra. Pigut, retrato de uma vegan-blogger (1/2)

Escrito por Solweig Ogereau Traduzido por Carolina Duarte de Jesus
5 Décembre 2014



Uma temática, um problema. O veganismo está regularmente no centro dos debates. O Journal International decidiu analisar o tema de mais perto e entrevistar uma vegan e com uma nutricionista. Primeira parte do dossiê: encontro com uma vegan.


Crédit Rick Ligthelm
Crédit Rick Ligthelm
A sra Pigut, segundo o pseudónimo do seu blog, PIGUT: Pequenas Idéias para Grandes Utopia s dá aulas de cozinha, ocasionalmente apresenta animações e escreve livros de cozinha. Ela aceitou responder a algumas perguntas para nos apresentar o veganismo. 

 Faz quanto tempo que a senhora tornou-se vegan, e  o que foi o que a?

Sou vegetariana desde que tenho 13 anos, porque antes não queria comer animais, por isso durante anos e anos era vegetariana sem realmente perceber porquê ou como, mas para mim era evidente não matar os animais para depois comê-los. E há cinco anos, comecei a ver coisas na Internet, ver de que maneira são tratados os animais, ver o que se passa por trás do leite e dos ovos. Antes simplesmente não comia carne nem peixe, e quando vi o que realmente acontecia com as vacas leiteiras, com as galinhas, decidi pouco a pouco de tornar-me vegan. Ao inicio não conhecia a palavra porque é verdade que é bastante recente na França. Por isso parei de comer ovos, leite, e recusei-me a comer todos os produtos animais, e só depois é que percebi que isso existia e que se chama veganismo. 

As primeiras criticas que são feitas são quanto a proteínas insuficientes nos vegetais, como é que combate essa insuficiência ? E como é que compensa a falta de vitamina B12?

Em realidade, as proteínas não são um problema a partir do momento em que se come de maneira variada. Há proteínas nos vegetais, há até alguns que têm oito ácidos amidos essenciais - é verdade que há muito menos vegetais onde há um bom equilíbrio. Há o soja, o quinoa, e alguns outros. Mas a maior parte dos vegetais vão ter um ou outro ácido amido e não outros, e por isso é que é preciso associar legumes e cereais, porque com os dois, sabemos que temos tal ácido amido num e tal ácido amido no outro, e é assim que obtemos o que se chama uma proteína completa. As proteínas são um falso problema, do momento em que se come quanto se quer, temos as proteínas que se precisam. Há outros problemas “escondidos” por este problema de proteínas, porque as pessoas informam-se mal, e têm medo por causa das proteínas deles e não vêm o que poderia ser um verdadeiro problema. 

E não a incomoda ter de se alimentar em farmácias? 

Ao inicio, não foi assim que o aceitei, não ficava feliz de pensar “Ah, olha, vou tomar um comprimido!”, mas o que sabemosé que as pessoas que comem carne já a tomam a través os mesmos animais, por isso pensei que mais valia ir á raiz, já que os animais os tomam eles próprios. E é verdade que de qualquer das maneiras não quero ferir os animais, por isso não vou comer um pedaço de carne só para ter um bocado de B12.

E a nível de saúde, está tudo bem?

Tornei-me vegetariana muito cedo mas ao comer sem ter atenção, mas estava bem á mesma. O meu ferro esteve sempre muito baixo. Está melhor desde que sou vegetaliana, porque tenho mais cuidado com o que como. O ferro vegetal assimila-se menos bem do que o ferro animal, mas ao mesmo tempo, diz-se que a alimentação animal impede algumas absorções. O meu B12 tinha caído a pico porque só ouvi falar disso muito tarde (vemos bem que o falso problema das proteínas oculta verdadeiros problemas!). Fiz então um teste e o meu nível de B12 era bastante baixo. E nessa época mal era vegan, houve amigos omnívoros que decidiram fazer o teste e há omnívoros carentes em B12. É um sério problema. Também gosto muito de esporte.

Crédits Anna Verdina (Karnova)
Crédits Anna Verdina (Karnova)
Para a senhora, há excepções quanto à rejeição de criação? Acha que a carne produzida por um agricultor que cria os animais com respeito, sem lhes dar hormonas, medicamentos,etc, poderia ser consumida? 

Não. De qualquer das maneiras eu não percebo como é que somos capazes de matar animais para se alimentar, sabendo que não é uma necessidade. Matar um animal é causar-lhe mal enquanto que poderia ser muito bem tratado… Claro que prefiro isso a uma industria. O problema é que quando isso existe, toda a gente pensa que o animal é bem tratado, mas ninguém está atrás do agricultor o tempo inteiro, por isso não sabemos se é bem tratado ou não afinal, e os matadouros são os mesmos para todos. 

Acha que banir a criação causaria um desaparecimento das espécies domesticas (como são incapazes de se alimentar por elas próprias, para alguns)?

É verdade que foram “inventadas” pelo Homem, como são espécies que foram cruzadas para obter um animal que vai nos dar mais leite. Ao mesmo tempo, impusemos espécies em certos sítios, o que fez que certos animais selvagens tenham desaparecido. Por isso talvez tudo se misturaria e que esses animais desapareceriam e que as espécies apareceriam. Talvez alguns se adaptariam. Pessoalmente, preocupo-me mais com o sofrimento dos indivíduos do que com o futuro da espécie.

E quanto ao tratamento dos animais nos jardins zoológicos, circos e parques aquáticos? Apoia a ideia que têm de ser liberados? 

Sou totalmente contra todos esses sítios, são sítios criados para fazer dinheiro, e há argumentos que dizem que é para salvar as espécies, mas em geral só há á volta de 50 espécies em perigo num zoo e quando vemos o número de espécies que eles têm, é uma falsa desculpa. Até porque o que me interessa não é a espécie, apesar de não ficar feliz com o seu desaparecimento, é mais o indivíduo em si. Ainda por cima é um bocado hipócrita porque as espécies desaparecem muito por nossa causa, e metemo-los em zoos para os preservar depois. Acho que poderíamos fazer esforços para criar zonas selvagens onde os poderíamos deixar viver tranquilamente ou assim. Fechar animais numa gaiola em condições horríveis para eles é inaceitável… Um leão não tem o espaço que precisa, nem o calor. Mais valem reservas naturais, é complicado mas eles precisam mesmo de mais espaço.

crédits Takver
crédits Takver
O fato da senhora ser vegan e se preocupar com questões ecológicas faz com que tenha mais cuidado com a origem dos alimentos que come? Come principalmente comida biológica? 

Como totalmente biológico. Não é obrigatoriamente o caso de todos os vegans. Para mim tem a ver sem ter a ver, digamos que ter uma mente aberta para uma coisa faz ter uma mente aberta para outras, até porque se poluímos o planeta não podemos salvar os animais, por isso é melhor consumir biológico. Tento o mais possível que seja local; tenho alguns alimentos que vêm de longe (bananas por exemplo); dou privilegio aos que vêm por barco. Tento ter cuidado: um planeta são também é importante. 

O orçamento que isso representa é grande ?

Eu cozinho tudo eu mesma, cozinhar é a minha carreira, para mim comer é importante, e não fazer mal é importante, por isso que seja caro ou não eu faço-o. Ganho muito pouco, mas antes, nos anos 50, gastávamos mais ou menos 40% dos nossos salários em comida, hoje em dia muito menos, e achamos que é normal, eu não tenho iPod, não compro grande coisa, mas a comida é importante para mim por isso gasto quanto for preciso. Ao ir ver produtores locais e ao comprar os produtos deles da época etc, é possível que não seja muito chato, mas claro que é preciso ser consistente, fazer pesquisas e por isso quando estamos á pressa não é propriamente fácil. Eu acho que vale a pena.

O orçamento que isso representa é grande ?

Alguns falam de uma comunidade vegan, o que é que significa para a senhora? Eu cozinho tudo eu mesma, cozinhar é a minha carreira, para mim comer é importante, e não fazer mal é importante, por isso que seja caro ou não eu faço-o. Ganho muito pouco, mas antes, nos anos 50, gastávamos mais ou menos 40% dos nossos salários em comida, hoje em dia muito menos, e achamos que é normal, eu não tenho iPod, não compro grande coisa, mas a comida é importante para mim por isso gasto quanto for preciso. Ao ir ver produtores locais e ao comprar os produtos deles da época etc, é possível que não seja muito chato, mas claro que é preciso ser consistente, fazer pesquisas e por isso quando estamos á pressa não é propriamente fácil. Eu acho que vale a pena.

Mlle Pigut aux côtés de Ôna Maiocco, fondatrice de Super Naturelle
Mlle Pigut aux côtés de Ôna Maiocco, fondatrice de Super Naturelle
Enquanto que vegetariana, estava sozinha. O meu pai era vegetariano mas não partilhávamos grande coisa, eu era realmente a única vegetariana, nem sei se era para os animais, nunca soube realmente, por isso sentimo-nos sozinhos, os outros olham para nós de lado, há gozos, e é bastante difícil porque é uma decisão tomada ao pensar fazer algo bem, por isso tentava ser discreta. Com a Internet há uma comunidade que se criou, pessoas que se encontram porque efectivamente, os vegans, há imensas de pessoas que pensam que são bourgeois bohème que moram em Paris e que são ricos, mas os vegans são montes de pessoas: é o teu vizinho, é qualquer pessoa, pessoas de todos os níveis sociais, pessoas que moram no campo, na cidade, e a Internet permitiu-nos comunicar: os forums, os blogs, as redes sociais. E permitiu primeiramente partilhar com pessoas que partilham os mesmos sentimentos que nós, e isso é bom, de não se sentir julgado cada vez que dizemos alguma coisa, mas também de poder ir mais longe, de trocar coisas que aprendemos por aí, sobre tal alimento, refletir sobre porque é que no fundo fazemos isso a tal animal. Faz refletir, quer que seja filosoficamente, em teoria, na pratica, para trocar bons lugares. 

Tem a impressão que o veganismo atraí mais as mulheres?

O estereótipo da mulher sensível e do homem forte, mais a associação do veganismo á sensibilidade em vez de uma força tiveram provavelmente um papel. Acho que até recentemente, talvez os homens duvidaram mais do que as mulheres quanto a tornar-se vegetarianos. Eu acho que pela sua popularidade e pelo compromisso que representa, que vai mais longe que a comida, o veganismo atraí mais homens. Em todos os casos, há homens vegans e tenho a impressão que há cada vez mais. Claro que são só impressões. 

Você toma posição, milita?

Acho que há imensas maneiras de militar. Sempre assino petições. Milito um bocado o dia inteiro com o meu blog, para mostrar ás pessoas o que existe. Quando somos vegans, tornamo-nos sempre um bocado ativistas nem que seja pela consumação, depois há pessoas que vão mais ou menos longe, há para quem seja primordial de estar sempre presente na rua para dizer o que têm a dizer, eu não me sinto sempre á vontade, muito honestamente, de ir manifestar na rua, por isso escolho realmente manifestações que me tocam mais. Quando não posso ir, partilho nas redes sociais para que outros vão. 

Viu muitas pessoas convertir-se ao veganismo?

Há cada vez mais pessoas que tomam interesse nisso. Existe desde há muito tempo, mas ficou muito marginal, acho que é sobretudo porque os vegetalianos eram bastante marginalizados, eu sei porque quando era vegetariana jovem, há 15 anos, éramos postos de lado, e por isso até eu não ousava ir mais longe, não temos vontade de ser um pária na sociedade por isso hesitamos. E agora com o fato que com a Internet haja mais abertura, que vemos que há outras pessoas, que não somos os únicos a pensar assim, podemos entre-ajudar-nos. Claro que há uma nova maneira de cozinhar, uma nova maneira de consumir, uma nova maneira de viver, e isso dá ideias e toda a gente se sente mais livre de fazer isso.

Na maior parte do tempo há bastantes mudanças na vida social, há quem consegue criar conexões com os seus amigos, eu acho que são pessoas muito abertas, que aceitam que os outros sejam diferentes, mas é verdade que quando tens amigos que só são omnívoros, é evidente que se começas a falar de veganismo e que queres que te compreendam, a cada encontro  haverá discussões sobre ti, gozos - que não são maus, mas estás com os teus amigos, não te apetece ter de te justificar, de ser um modelo, de estar em representação, ás vezes damos a impressão de ser anti-conviviais. E é verdade que é mais agradável de estar com vegans, não o escondo, porque de repente, podemos falar de outra coisa. E também não temos obrigatoriamente a mesma opinião mas mesmo assim podemos debater e não há sempre um muro onde as pessoas têm medo que lhes estejamos a fazer proselitismo. Como toda mudança na vida, há pessoas que não a aceitam - para alguns é quando os amigos deles têm uma criança, mudam de trabalho, que se convertem a uma religião. Chegamos com uma diferença e acho que na França as diferenças são muito mal aceites, que seja uma diferença de origem, sexual ou de valor.

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