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Durante o final de semana, houve rumores em Pondicherry sobre uma greve que começaria no dia 27 de julho na faculdade da cidade. A noticia teve pouco crédito.Como poderia este campus tão grande – aonde o preço da matrícula limita a entrada – chegar a criticar a ordem social? Porém, naquela segunda, às 8:40 da manhã, o país revelou-se: os estudantes sentarão-se em frente às quatro portas da faculdade, impedindo o acesso ao personal e a polícia.
A origem da discordia
A reivindicação é simples: os estudantes pedem a demissão imediata da vice-chanceler da faculdade, número um da instituição. O discurso dos insurgentes é afinado e os argumentos brotam de toda parte para explicar as razões desta greve. Foram levantadas suspeitas de corrupção financeira. Foi quando a faculdade conseguiu liberar fundos para a construção de uma residência estudante com capacidade de acolher 2000 pessoas, esta construção não viu a luz do dia, e o financiamento foi redistribuído em obscuras condições.
Alguns dias antes, um professor da faculdade contava que alguns anos atrás, o transporte dentro do campus era possível graças às várias bicicletas que eram emprestadas aos estudantes, assim como os veículos elétricos. Hoje em dia, já não há rastro desta mobilidade, chamada de sustentável. Os gastos da vice-chanceler também são denunciados: cinco milhões de rúpias (mas de 70 000 euros) para a renovação da sua residência, mudança de um veículo de função para três e contas extravagantes de transporte e telefonia.
Além das derivas financeiras, a má gestão é evocada pelos grevistas. As novas construções não tem sido abertas aos estudantes, os prazos para a obtenção dos diplomas são de até um ano, a privatização dos exames é mais cara do que a prova normal, e até o assédio de estudantes por parte dos bêbados no campus mesmo já não é assunto sério para administração.
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A direção já não se preocupa pelo bem estar dos estudantes. As residências só podem acolher 40% dos novos estudantes, e isto em condições rudes, pois quatro alunos são afectados em quartos com capacidade para duas pessoas. Algumas das residências já não têm fontes de água filtrada, o qual ressalta a falta de água potável na India. E quanto aos estudantes, o preço da matricula aumentou fortemente, e nos últimos dois anos nenhum financiamento foi liberado para a compra de livros.
Aswin, estudante que foi obrigado a esconder o seu rosto por medo às represalhas da polícia ou da administração,fala sobre as fraudes científicas cometidas pela vice-chanceler. Com provas escritas das quais se apoiar, fala dos vários diplomas que vêm de uma faculdade no Sri Lanka que simplesmente não existe. Dois dos três livros que pretende ter publicado são meras invenções, e a cota é a mesma com seus artículos científicos. Poderiamos continuar com as supervisões de tese: nove no seu currículo, duas verdadeiras. Idem para os projetos universitários.
Assunto sem dúvida mais delicado, o folheto detalhado dos estudantes fala de violação aos direitos humanos e de barbárie. Um aluno insultado e torturado, e muitos outros expulsados e amordaçados – os que se atreveram a falar. Uma das grevistas, quem prefere ficar no anonimato e cujo pseudónimo é Sn, conta que um homem ameaçava sexualmente duas meninas. Quando elas se reuniram con a vice-chanceler, ao invés de protegê-las, ela as suspendeu.
Inércia política
As acusações são importantes, mas mesmo se os documentos imprimidos pelos estudantes parecem ser verdadeiros, poderia estabelecer-se uma dúvida legítima sobre a verdade dos fatos. O folheto de duas páginas é extremamente detalhado e nele se explicam cada uma das acusações. Também há um livreto plastificado no qual o currículo da vice-chanceler é desmontado, ponto a ponto, para provar o delito de fraude com ajuda de umas cópias dos documentos originais. Para Namy, estudante grevista, o começo da tomada de consciência foi dois anos atrás, e faz oito meses que a organização da contestação formou-se. Já foram enviados correios ao governo da União India, organismo responsáveis da faculdade.
Como tiveram os estudantes acesso a tantos dados? A resposta é simples: alguns dos professores da faculdade passaram pelas mãos da direção de Chandra Krishnamurthy, e por isto fazem parte da greve, pelo menos tácitamente. Naquela segunda de manhã, quando a polícia ameaçou deter os alumnos, o secretário-geral da associação de professores da Faculdade de Pondicherry – a PUTA (Pondicherry University Teachers’ Association, sigla em inglês) – foi visto ao interpor-se e pronunciar: “Se a polícia deter alguém, serei eu o primeiro”. A ovação é enorme, selando a aliança na luta de professores e alunos.
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A situação é apenas credível. As provas são arrasadoras. Há suspeitas da vice-chanceler, que quase nunca tem dado aula, entrou em função porque conhecia uma pessoa de alto rango no governo. Os rumores indican que foi o ministro do Interior. Depois dete episódio de “paraquedismo”, a gestão da faculdade é alarmante, as transfêrencias financeiras dubitativas, e o bem estar e a segurança dos estudantes são ameaçadas. Em vista desta configuração, a lógica seria que a persona fosse demitida. O problema é que já faz dois anos que ela continua sendo fiel ao seu posto, e a situação não melhora. A faculdade de Pondicherry, a qual estava no top 10 das faculdadees da índias no ano 2013, caiu ao 61avo lugar no ano 2015. Frente à inércia dos políticos, a única resposta para os que se preocupam pela faculdade, para os que amam ensinar ou aprender, e para os que tem uma certa noção do que é a educação, é a greve.
Uma greve pacífica e valente
A faculdade na índia não é a faculdade francesa. A matrícula é cara em relação ao ingresso médio do país, e segundo a UNESCO, no ano 2002, somente uma de cada dez crianças chegaria ao ensino superior. O respeito pelos professores é enorme: a cada entrada e saída do professor da sala de aula, os alunos se levantam. Não se pode comparar aos anfiteatros distraídos, lá onde os estudantes chegam depois do começo da aula.
Neste contexto, centenas de estudantes ficam sentados para bloquear as portas da faculdade, desafiando a pressão da polícia e os riscos académicos em jogo. “Queremos justiça” ou “Em cada aléia da cidade, escutamos que a nossa vice-chanceler é uma ladra”, slogans traduzidos do inglês e do hindi respectivamente, são cantos de motivação para a resistência pacífica.O campus reune estudantes índios e internacionais, o que permite uma emulação cultural. Assim Pondicherry está localizada na região lingüística tâmil, o slogan hindi também representa India do norte, e o inglês unifica a insurreção.
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Várias vezes durante aquela manhã, a tensão subiu. Os oficiais da polícia, com suas matracas de madeira, baterão em vários estudantes sentados. Eles não quiseram ceder à violência dos golpes, às ameaças e aos avisos morais dos policiais. Só tinha um slogan como resposta. “Polícia, nos ajude”. Também estão os numerosos funcionários da faculdade:a maioria muito pobres. Uma parte deles queria voltar pra casa. Um homem gritava “É meu lugar”, mostrando pra multidão que o seu trabalho na faculdade é o que lhe permite alimentar a sua família. Alguns dos funcionários com motos tentaram atropelar a multidão de estudantes sentados. Os insurgentes continuaram a resistir: são valentes e estão determinados a manter o pacifismo.
Na pátria de Mahatma Gandhi, líder da não-violência, é dificil de entender estas pessoas, com máquinas motorizadas, que pensam que esta causa é atropelável. Por acaso defendem a lógica da vice-chanceler? Ou simplesmente não querem que nada perturbe a sua rotina de ir pro trabalho, mesmo tratando-se de uma questão ética? Em qualquer caso, quando os motociclistas fazem rugir as suas máquinas fumantes em frente aos estudantes sentados, quietos e valentes, a imagem que salta à mente é a da praça de Tiannamen.
O caráter absurdo da direção da faculdade exigiria, por simples senso comum, um câmbio na equipe diretiva. Porém, isto não é evidente, e o peso da autoridade policial e administrativa pode acabar com esta revindicação em qualquer momento. Como poderiam algumas centenas de estudantes e professores enfrentar-se a um Estado corrupto e teimoso, armado com matracas? Um dos meios para trazer a a justiça de volta seria a tomada de consciência cidadã através dos meios de comunicação, e a rejeição da corrupção por cada um de nós.