Nada de bom anuncia-se na Gambia desde as últimas horas de 2014. Na noite da segunda-feira 29 a terça-feira 30 de dezembro, antigos soldados gambianos levaram a cabo uma tentativa de golpe de Estado no palácio presidencial em Banjul, a capital do país, enquanto que o presidente Yahya Jammeh se encontrava numa visita privada no Dubai nos Emirados Árabes Unidos. Segundo fontes militares gambianas, um grupo de comandos composto por sete homens fortemente armados teriam chegado de canoa a Marina Parade, na cornija no leste de Banjul onde se encontra o palácio presidencial, e teriam aberto fogo sobre as forças de segurança presidencial mas o grupo de soldados acabou por ser neutralizado. Três homens teriam sido mortos no ataque segundo um balanço não oficial, nomeadamente o líder do grupúsculo Lamin Sanneh, um antigo capitão e desertor do exército gambiano. Outros revolucionários ainda se encontram em fuga.
Segundo a Agence France-Presse (AFP), soldados gambianos estão envolvidos numa vasta operação de porta em porta desde 2 de janeiro para interrogar os civis e tentar encontrar os participantes do golpe. Mais de uma dezena de soldados e civis teriam sido detidos pela National Intelligence Agency (NIA), os serviços de informação do país, conhecidos pelos seus métodos implacáveis e muitas vezes radicais. A RFI revela que os inquéritos realizados desde o ataque falhado teriam permitido encontrar em contentores do porto de Banjul os planos de ataque do grupo de comandos revolucionário, assim como artilharia pesada de armas automáticas e explosivos.
Forte reação após o golpe de Estado
Este golpe de Estado parece ser o elemento determinante de um endurecimento da política levada a cabo pelo presidente gambiano, já conhecido por governar o país com mão de ferro. As ameaças dirigem-se a qualquer potencial opositor político mas também aos jornalistas e activistas dos direitos humanos. Enquanto que a tensão e a suspeita constantes aumentam, quatro soldados gambianos suspeitos de terem participado no golpe de Estado deixaram o país e entregaram-se às autoridades da Guiné-Bissau segundo uma fonte da AFP, apesar do desmentido por um comunicado oficial do governo guinense da sua presença no território nacional.
Uma onda de medo abateu-se em Banjul desde o ataque. Apesar das tentativas do presidente para tranquilizar os gambianos e os encorajar a retomar uma “vida normal”, a cidade parece ter apagado enquanto que os habitantes da capital ficam enclausurados em casa e os comércios e os bancos fecharam as suas portas por receio de represálias. Só as manifestações de apoio de funcionários e cidadãos gambianos ao presidente Jammeh que tiveram lugar nesta segunda-feira 5 de janeiro parecem dar vida às ruas de Banjul, como o revela a jornalista Aisha Dabo na sua conta no Twitter.
Jammeh, o tirano disfarçado?
No entanto, a espontaneidade destas manifestações deu lugar à dúvida. A reputação de Yahya Jammeh vai de mal a pior perante os outros dirigentes africanos que o consideram às vezes como um tirano, e tem cada vez menos aliados na região. A comunidade internacional está cada vez mais preocupada com os impactos do golpe de Estado. Receia uma recrudescência da violência governamental e um rigoroso controlo das liberdades dos gambianos, enquanto que toda forma de manifestação contra o governo de Jammeh é sistematicamente reprimida como o revela numa entrevista à RFI Jibrin Ibrahim, director do Centro de Democracia e Desenvolvimento em Abuja (Nigeria).
O presidente autocrata governa com mão de ferro esta antiga colónia britânica independente desde 1965, encravada no centro do Senegal. O ataque do 30 de dezembro não é a única nota negativa para o presidente: varias tentativas de golpe de Estado tiveram lugar desde que ele próprio acedeu ao poder por um golpe de Estado em 1994. Yahya Jammeh está atualmente no seu quarto mandato de presidente da Gambia.