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No início de julho, a Islândia lançou sua nova temporada de caça às baleias. Depois de interromper a caça por 14 anos, a ilha vulcânica reiniciou a prática em 2006. Apesar dos protestos e petições que surgiram este ano, o país, no entanto, reativou a caça. 800.000 assinaturas foram apresentadas contra o retorno da caça para 2015: um número significativo, dado que a Islândia tem cerca de 323.000 habitantes. A petição ultrapassou as fronteiras, o que não impediu centenas de toneladas de carne de baleia de serem exportadas. Em 2014, os baleeiros islandeses mataram 24 baleias minke e 134 baleias rorqual comuns.
Regras e adversários
Há mais de mil anos, os pescadores já atacavam os gigantes dos mares. Naquela época, contudo, estas aterrorizavam marinheiros por seu poder e tamanho. Hoje, navios de caça estão a salvo de quaisquer ondas criadas pelos cetáceos. Arpões estão bem na mira da pele do animal. A prática se torna mais fácil e mais duradoura.
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A caça comercial de baleias foi proibida desde os anos 80, e a adopção de um texto pela Comissão Baleeira Internacional, responsável por regular a caça. Assim, em princípio, todos os países deveriam respeitar essa regra, porém, não sendo uma lei internacional, ela não é reconhecida por todos. A Islândia e a Noruega não ratificaram a moratória de 1986 sobre a caça comercial da baleia. "Eles não estão fora da lei. As deliberações da CBI não são obrigatórias para os Estados, que permanecem soberanos. É o mesmo funcionamento da ONU ", diz ao Jornal Internacional Denis Ody, responsável pela WWF França polo oceano. O Japão, por sua vez, foi proibido de caçar na Antártida nesta temporada. O país desenvolveu um relatório que prentende demonstrar que a caça não tem objetivo comercial, mas científico. O governo japonês diz que visa melhorar o conhecimento sobre o ecossistema marinho da Antártida, e que essas pescas são "necessárias" às análises. Um "pretexto", de acordo com Denis Ody. "A maioria dessas campanhas científicas não têm mostrado resultados, ou muito pouco."
O Japão continua sendo um dos principais compradores de bife de baleia. Em junho passado, um navio islandês deixou o porto de Hafnarfjördur, para chegar à costa japonesa, com 1.700 toneladas de carne de baleia a bordo. No total, 25.000 baleias foram abatidas por esses três países, desde a entrada em vigor da proibição da caça comercial, de acordo com dados da ONG Sea Shepherd.
Um setor não tão promissor, porém
Poderiamos pensar que, se esses países continuam a caça, é que eles vêem benefícios econômicos. Esse não é o caso: as vendas de baleias estão diminuindo nos últimos anos. Na Islândia, o turismo para ver baleias traz milhões de dólares a cada ano. Atacar esses animais significa, então, lançar um arpão no pé da econômia. São majoritariamente os turistas que saboream a carne de baleia. Na Islândia e Noruega, eles são uma parte importante da demanda local.
Assim, eles contribuem para a continuidade da caça praticada por ambos os países. Localmente, noruegueses e islandeses comem cada vez menos baleia, eles não gostam tanto da carne, que não recomendada para crianças, pois contém metais pesados. "O teor de metais pesados e poluentes na carne e gordura pode causar doenças graves em caso de consumo regular", informa-nos Nithart Charlotte, porta-voz da organização ambientalista Robin Hood. Na Islândia, o Estado subsidia a caça, ajudando os baleeiros a pagar sua infra-estrutura e equipamentos de pesca. Na terra do sol nascente, o estoque de carne de baleia atingiu, inclusive, o seu nível mais baixo em 15 anos, 1 157 toneladas, ainda assim. "A carne se acumula e ela não é consumida", relata Denis Ody.
A queda foi generalizada. Então, por que continuar essas caças? Os argumentos das nações envolvidas são diferentes e nem sempre racionais. "A Noruega e a Islândia têm um passado importante de caça às baleias e outros mamíferos marinhos, como as focas. Eles também têm uma grande zona econômica exclusiva no mar. Eles estimam, e este também é o caso do Japão, que desistir da caça à baleia e ceder à pressão internacional os levariam a fazer mais concessões no domínio das atividades de pesca. A caça à baleia é uma afirmação da soberania", analisa Charlotte Nithart. Para Denis Ody, nao há "nenhuma razão para continuar a caçada. É um jogo puramente diplomático. No CBI, os Estados Unidos têm o mesmo peso que um país pequeno. Essa é provavelmente uma maneira de eles mostrarem que existem na cena internacional. Não há nenhuma questão econômica. "
Finalmente, são as tradições culturais que pesam mais. "Há um certo hábito, certamente em declínio, mas muito enraizado, de comer a carne de mamíferos marinhos e usar outras partes desses animais para a roupa ou para uso doméstico". A caça à baleia seria, para eles, uma espécie de necessidade patriótica para honrar os anciãos. Na Islândia, cozinhar a baleia permitiria venerar a antiga cozinha Viking. Alguns comerciantes já desenvolveram a cerveja de baleia, que, segundo eles, tornaria o consumidor "um verdadeiro viking", porque ele iria encontrar suas raízes. O governo islandês garante que essa pescaria é "sustentável" e não ameaça a espécie.
A pesca de subsistência
Groelândia, Alasca, St. Vincent Grenadines, Ilhas Faroé e a região de Chukotka, no leste da Sibéria oriental, praticam a caça de subsistência. Em outras palavras, eles têm quotas regulamentadas e toleradas para caçar baleias, porque é parte do seu património cultural, sua tradição local e sua herança comum. "Essas são as licenças emitidas para pessoas que têm uma maneira muito tradicional de vida. Em princípio, se tudo é respeitado e não há excesso, por que não?", diz Denis Ody.
A caça de subsistência é dada a pessoas que têm mantido essa tradição cultural, sem a qual as suas necessidades não são satisfeitas. A caça aborígena, como a caça científica é, portanto, aceita pela CBI. Outros países continuam bastante opacos frente a sua vontade e prática. A Indonésia, por exemplo, ainda pratica a caça às baleias, particularmente na ilha de Lembata. Lá, é um tipo de entretenimento e prática ancestral que persiste.
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Nas Filipinas, país retrator da Convenção Internacional para a Regulação da Atividade de caça à baleias, a caça continua sem que dados numéricos sejam exibidos. Às vezes clandestinamente, muitas vezes violentamente, pescadores filipinos, não hesitam em usar explosivos para encher as redes. Práticas proibidas por Manila, mas persistentes no país. Nas Ilhas Faroé, a caça de subsistência se transforma em assassinato em massa a cada ano. Esse é o "grindadràp" ou a "matança de baleias", em Feroês.
A baleia contribui para o equilíbrio marinho
Embora protegidas, as rorquals comuns - mamíferos marinhos entre os mais pescados pelos baleeiros - estão ameaçadas de extinção. Elas sofrem os ataques de caçadores e sua população está em perigo. Muitos navios que navegam perto de seu habitat, as redes de pesca, a redução de suas presas devido à sobrepesca e o sonar também fazem parte das dificuldades encontradas por essa espécie quando é época de reprodução.
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A baleia é particularmente útil para o bem-estar do ecossistema dos oceanos. "Algumas espécies de baleias percorrem o oceano em busca de presas como vermes e crustáceos planctônicos. Essa prática de transformar e dispersar sedimentos aumenta a produtividade biológica ", diz Charlotte Nithart. As carcaças de baleias servem de moradia e nutrientes para certas espécies que vivem no fundo do mar. Elas contribuem, assim, para o desenvolvimento saudável da natureza subaquática. Quando uma baleia morre, ela afunda e traz uma grande quantidade de carbono orgânico, pelo fato desta cair no fundo do oceano. As baleias reciclam nutrientes e seus excrementos promovem o crescimento do plâncton. "As baleias são criadoras de plâncton", diz ela. Seus excrementos também ajudam a absorver dióxido de carbono. A baleia possui, portanto, capacidades benéficas e essenciais para a ecologia. "Desde o berço até o túmulo, o ciclo de vida de uma baleia é útil para o bem comum", conclui Charlotte Nithart.
A pesca em grande escala é uma expressão que ilustra bem a caça às baleias. Aqui, os grandes em questão são fracos e cada vez menos presentes nos mares e oceanos. Eles pesam menos, tanto nos oceanos, como na econômia dos países que os caçam. No entanto, a perda mais significativa ocorre na beleza animal, na biodiversidade e no equilíbrio dos oceanos marinhos.