A deflação: um problema a criar-se

Escrito por Corentin Corcelette Traduzido por Carolina Duarte de Jesus
21 Janvier 2015


O novo medo dos países europeus tem um nome: a deflação. As políticas de austeridade na Europa levam a um abrandamento da economia e são a principal causa deste risco de deflação. Na idéia popular, a deflação define-se por uma baixa dos preços e então, reganhar o poder de compra. A realidade é radicalmente diferente, o circulo vicioso da deflação não é em nada invejável. Análise.


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O Banco Central Europeu (BCE) fixou-se como primeiro objetivo de limitar a inflação a 2% por ano. No entanto, para o mês de agosto de 2014, o aumento dos preços na zona euro em ritmo anual, ou seja, entre agosto 2013 e agosto 2014, foi só de 0,3%. Em França, este número é de 0,5% mas na Grécia, em Espanha, na Itália, em Portugal e na Eslováquia, os preços começaram a diminuir. Para ser mais exacto, os economistas falam de deflação quando a diminuição dos preços não é acompanhada por uma diminuição correspondente ao nível das taxas de interesses. É por exemplo o caso quando os preços baixam e que as taxas de juros não podem ficar negativas. Para perceber esta definição, vamo-nos interessar aos diferentes impactos da deflação.

O circulo vicioso da deflação

Há dois casos a distinguir: o curto e longo termo. A curto termo, a deflação não causa grandes problemas. Pelo contrário, ela contribui a voltar a dar poder de compra. Efetivamente, podemos tomar o exemplo dos salários no sector privado. Em França, estes salários aumentaram de 1,5% entre março 2013 e março 2014 para simplesmente 0,6% de inflação. No entanto, a longo termo, a deflação é uma catástrofe para a economia. As famílias esperam a futura baixa dos preços para comprarem. Efectivamente, porquê comprar hoje enquanto que amanhã os preços vão baixar ainda mais? As empresas vão então reverberar esta baixa da consumação nos preços e vão ter de rever as margens com a possibilidade de ajustamento na massa salarial. Em outros termos, vão ter de licenciar. Estes dois primeiros efeitos são facilmente compreensíveis. Voltemos á definição mesmo da deflação, evocada aqui. 

A deflação é caracterizada por um aumento das taxas de juro real. Estas últimas definem o que os economistas chamam o custo do capital. Um exemplo simples permite de perceber este argumento. Decidimos de realizar um empréstimo de 100 com uma taxa juro a 2%. O próximo ano vou então ter de devolver 102. Se entretanto os preços diminuem de 2% os meus bens valem 98 e se decido de voltar a vender os meus bens para reembolsar o empréstimo, a taxa de juro real é de 4%. Efectivamente, meus  bens perderam  seu valor e então na realidade a taxa de juro do meu empréstimo é de 4%. Se pensarmos num exemplo ao contrário, se os preços aumentaram 2% em vez de diminuírem, então meus bens valem 102 e a taxa de juro real é de 0%. A inflação é então invejável em alguns casos. O que é preciso perceber é que em período de deflação um projecto de investimento tem de ser mais rentável para que seja “justificado”. E então a baixa do nível de investimento - por causa do aumento dos juros reais - é outra característica da deflação. 

E o circulo vicioso não para aqui. Efetivamente, de maneira simétrica com o que precede, a deflação provoca um aumento do peso da dívida. As taxas de juro do reembolso da dívida pública aumentam. A dificuldade de se endividar se intensifica enquanto que a dívida pública se establece a 94% do PIB na França, 97% na Espanha e 136% na Itália, no primeiro trimestre de 2014. Voltemos a usar um exemplo para entender melhor. Se um Estado tem uma dívida pública de 90% do seu PIB com 3% de déficit público, um aumento de 2% e uma taxa de inflação de 2,5%, então os 93% de dívida pública no ano seguinte vão ficar a 104,5 do PIB. no final, temos uma diminuição de 1,5% da sua taxa de divida a 88,5%. Mas outro Estado desta vez tem 0,5% de crescimento e 0,5% de inflação - como a França - então os 93% da dívida pública são 101 do PIB. Chegamos então a um aumento da sua taxa de dívida de 2% a 92%. 

As causas da deflação

A primeira coisa a notar é que o problema parece ser interno á zona européia. Apesar do abrandamento da economia chinesa provocar uma queda das exportações para o país, são os Estados-Unidos, que estão na origem da crise - por causa de uma desregulação financeira acontecida por acaso e de desequilíbrios sociais elevados - que estão melhor financeiramente. Este ano, o país conta 10 pontos de PIB a mais que antes da crise e a criação de 1,2 milhões de postos a mais. Enquanto que a Europa vê um nível de produção inferior ao de 2008 e uma destruição de empregos em ordem de 4,8 milhões. O problema seria então a heterogeneidade da zona euro. Há um excesso de poupanças na zona euro que traduzem os excedentes exteriores. 

Efetivamnete, estes excedentes exteriores são quase inteiramente alemães. A Alemanha, com a sua demografia que està em declínio, não teve outra escolha que se impor um rigor orçamental ao resto da Europa. É por isso que, o prêmio Nobel da economia Maurice Allais não teve muitos ecos. E por causa disso, disse que “naõ é porque já estamos muito endividados que não devemos voltar a pedir um crédito se é para financiar um projecto muito rentável”. O investimento na transição energética poderia por exemplo ser muito rentável. Mas a população alemã diminui demasiadamente depressa com uma taxa de nascença de 1,4 filhos por mulher. Então, a redução da dívida e o reequilíbrio das contas é essencial para um país que sabe que produzirá menos riquezas pelo futuro porque a sua população vai diminuir. 

Ao contrário, daqui a 30 anos a França tornar-se-á no país mais populoso da Europa enquanto na Alemanha hoje conta-se 25 milhões de habitantes a mais. É então natural que a França não tenha uma necessidade vital muito urgente de por em dia as suas contas públicas.

Por isso, a austeridade agrava as coisas ao ter um efeito recessivo. Em 2009, os Estados tinham largado a flange dos défices para evitar que a actividade não se desmoronasse como em 1929. Hoje, não é o caso, os planos de austeridade dos países do sul acumulam-se. O que provoca - como visto precedentemente - um resultado limitado nos défices por causa da estagnação da economia. As receitas fiscais são mais baixas. Por exemplo, o déficit público grego ainda é de 12,7% e de 7,1% na Espanha. Para mais, a dívida pública da zona euro é em média de 96,4% do PIB com um aumento de 320 milhares previstos este ano. A corrida au moins-disant salarial é um exemplo desta política que tem por objectivo reequilibrar as contas exteriores ao atrair os investidores.

Podemos ouvir desde o inicio da crise que o problema na França é a competitividade e então o custo do trabalho, que seria demasiado elevado. Não voltaremos a este debate neste artigo mas se é esta política que é posta na zona euro. Então, o custo de um trabalhador grego diminuiu de 15% entre 2010 e 2013, 3% por um italiano, 3,3% para um português, 4% para um espanhol e 4,9% para um irlandês. Mas esta política é ineficaz porque é feita em conjunto por todos os países. Portanto a vantagem competitiva foi restrita menos com a França. Efetivamente, a competitividade da França diminui quanto á Espanha - cliente muito importante - e a especialização da França não lhe permite de exportar fora da zona euro, ao contrário de um país como a Alemanha. O outro problema desta política é a redução da procura interior, porque o custo do trabalho também tem de ser interpretado em termos de renda e então de consumação. Mas enquanto que o crescimento de um país como a França baseia-se muito na consumação, esta está contraída. 

As soluções para sair da deflação

É imperativo de não deixar esta situação piorar para não ser confrontado ao caso do Japão. Este país tem uma dívida pública que vai até 250% do seu PIB em 2013, mas detida em grande parte por japoneses, o que explica porque é que o Japão não é atacado pelos mercados. O seu PIB em preço corrente diminuiu de 10% entre 1997 e 2013. A deflação é moeda corrente desde há 20 anos no país. Depois de uma análise, a dificuldade a sair da deflação parece intransponível. Na Europa, vários mecanismos são feitos para tentar escapar a esta espiral. A taxa de refinanciamento, que representa o preço ao qual os bancos comerciais compram o seu dinheiro para fazer créditos ás famílias e empresas, diminuiu para atingir 0,05 hoje. Não podemos descer mais baixo.

Os bancos podem então emprestar mais facilmente ás empresas e ás famílias. O objectivo procurado é de provocar um relançamento da economia. Existem outros instrumentos de relaxamento quantitativo, quantitative easing, que consistem em criar moedas para injectar na economia. Fala-se aqui de inundar a economia líquida ao injectar 1000 milhares de euros, que a BCE vai emprestar aos bancos sob forma de empréstimos a longo termo, na condição que estas emprestem ás empresas para ajudar os seus projectos d’investimento. Uma última alavanca que não é utilizada pela BCE mas que é moeda corrente para os Estados-Unidos e o Reino-Unido é a redenção de obrigações públicas. O que as mídias chamam geralmente a planche à billets, ao tomarem um empréstimo da BCE sem  juros.

No entanto, a lei de 1973 obriga o Estado francês a fazer empréstimos nos mercados financeiros com taxas de interesse mais ou menos elevados. O objectivo procurado era de limitar a inflação, que era o grande medo dos políticos da época. Este objectivo já era muito discutível. Mas enquanto que hoje a França pagou 1700 milhares de euros de juros e tem uma dívida pública de 2000 milhares, não seria preciso voltar atrás? Efectivamente, o reembolso é o primeiro ou segundo posto orçamentário na França, dependendo dos anos. 

Para ir mais longe, outras soluções podem ser tomadas em consideração. A baixa do euro, por exemplo, permitiria aos países do sul de ganhar em competitividade e então de realizar excedentes comerciais. Efectivamente, o euro forte é um factor principal da deflação mas a zona euro vista no global tem 200 milhares de euros de excedentes exteriores por ano, ou seja 2% do PIB total. O euro forte permite principalmente à Alemanha de fazer a maioria dos seus excedentes. Tomemos o exemplo do sector automóvel. Tendo uma Mercedes a 100 000 euros, uma Renault a 18 000 euros e uma Hyundai a 20 000 dólares. Se 1 euro = 1 dólar, então as pessoas com dinheiro vão comprar o caro alemão e as classes médias vão comprar o caro francês porque o que interessa a estes últimos é o custo. Ao contrário, se tomarmos a situação classica de 1 euro = 1,40 dólares, então a Mercedes vale 140 000 dólares, a Renault 25 200 dólares e a Hyundai ainda 20 000 dólares. 

Portanto a as classes mais altas ainda vão comprar a Mercedes, porque querem comprar um estatuto social - 40% de ganho suplementar para a Alemanha - mas o casal tenham tido problemas financeiros vai comprar a Hyundai e por isso a Renault vai perder partes do mercado. Os políticos respondem que basta copiar o modelo alemão ao fabricar produtos de alta qualidade. O problema, é que estas diferentes gamas vêm de problemas estruturais que vão demorar anos antes de se preencher. Mas entretanto, a Alemanha dirige a Europa, e parece pouco provável de assistir a uma baixa do euro. Ainda para mais que o país evoca como argumento o risco de uma guerra comercial, onde todos os países tentariam de diminuir a moeda para se tornarem mais competitivos. 

Na hora actual, é óbvio que as medidas tomadas não são suficientes. Mas na Alemanha, o abrandamento sentiu-se com o 1,3% de crescimento em 2014 em vez dos 1,9% inicialmente previstos no início do ano. No entanto, a situação parece estar bloqueada por causa da heterogeneidade dos países da zona euro. Têm efectivamente interesses económicos totalmente divergentes. Mas toda a gente está de acordo sobre o facto que a deflação põe vários problemas: ela acompanha-se de uma baixa da actividade económica, as famílias consomem menos, as empresas produzem menos por causa das reduções de efectivos ou de salários, forçados pela baixa de consumo. As famílias vão então ver os salários diminuir e o circulo repete-se constantemente.